Existem diversas patologias relacionadas à articulação femoropatelar, sendo a síndrome fêmoro-patelar (SFP) uma das mais comuns e desafiadoras de tratar, compreendendo 25% dos diagnósticos nas clínicas ortopédicas e 30 a 33% dos casos na medicina esportiva e nos centros de reabilitação, ocorrendo mais freqüentemente em mulheres.
A SFP resulta de um desequilíbrio das forças direcionadas à patela durante seu movimento normal. O paciente é geralmente jovem e ativo e sofre de dor retro-patelar e peri-patelar resultante de longos períodos sentado(sinal do cinema), agachado, ajoelhado, subindo ou descendo escadas, geralmente de início insidioso e progressão lenta. Estas atividades aumentam as forças compressivas da articulação femoropatelar que exacerbam a dor nestes pacientes, geralmente os pacientes relatam os sintomas após uso excessivo da articulação do joelho ou mudança da intensidade das atividades.
Clinicamente, sujeitos com dor femoropatelar relatam limitações na marcha, particularmente durante o subir e descer escadas e andar em planos inclinados. O desconforto associado com essas atividades geralmente resulta em modificação nos padrões da marcha, numa tentativa de reduzir as demandas musculares e, conseqüentemente, a dor.
Dentre os fatores biomecânicos mais freqüentemente relacionados ao desenvolvimento da SFP, destacam-se o desequilíbrio estático e dinâmico. Entre as alterações no equilíbrio estático, alguns autores afirmam que anormalidades como pronação subtalar excessiva, aumento do ângulo Q, torção tibial externa, retração do retináculo lateral, dos músculos isquiotibiais e do trato iliotibial, patela alta ou baixa, medializada ou lateralizada, anteversão femoral, joelhos valgos e um comportamento patelar inadequado podem causar dor anterior do joelho. Entretanto, outros autores relacionam a SFP com o desequilíbrio dos estabilizadores dinâmicos, principalmente entre os componentes mediais e laterais e, mais recentemente, a porção oblíqua do vasto lateral, o vasto lateral oblíquo.
Considera-se atualmente o desequilíbrio da musculatura extensora, a insuficiência do VMO, a fraqueza dos músculos do quadril, a atividade excessiva, a diferença entre o início da contração muscular (onset) entre VMO e VL como fatores contribuintes para a origem da dor anterior no joelho. Nessa situação, ocorreria um desequilíbrio entre os músculos estabilizadores primários da patela.
A força gerada pelo músculo vasto lateral, não sendo adequadamente equilibrada pela força medial do vasto medial oblíquo, resulta em deslocamento lateral e mau alinhamento da patela. O músculo vasto medial oblíquo age como um estabilizador medial para a patela e mantém um alinhamento patelofemoral apropriado durante o movimento do joelho. O desequilíbrio entre o vasto medial obliquo e o vasto lateral resulta em um tracionamento anormal da patela, e conseqüentemente em dor. Então, o reforço muscular do vasto medial obliquo é crucial na reabilitação da síndrome da dor patelofemoral e o principal objetivo da reabilitação são os exercícios que devem modular as atividades relativas dos músculos nos lados medial e laterais para balancear a força de tração patelar.
Para indivíduos com SFP há a hipótese de que a dor e o aumento dos estresses articulares anormais, conseqüentes do mau tracionamento da patela, possam levar à anormalidade na propriocepção do joelho. O tracionamento alterado afetaria a magnitude e a distribuição das forças atuantes na articulação femoropatelar, especialmente as pressões no interior da articulação. Desse modo, a sensação de compressão, incluindo a sensação de dor, poderia contribuir para a diminuição da propriocepção do joelho.
O tratamento conservador tem-se mostrado eficaz para a SPF, relatando êxito na reabilitação conservadora em 76%. Porém, se não tratada corretamente, na evolução da SPF ocorrem fissuras na cartilagem articular da patela, a partir destas fissuras a cartilagem pode iniciar um processo de desgaste mais acelerado que pode degenerar a cartilagem até o osso subcondral. Para que isso não ocorra, deve-se tratar da SPF e das suas alterações. Em aproximadamente 10 a 20% dos pacientes, o tratamento conservador não apresenta melhora significativa, com dor em atividades da vida diária ou em alguma atividade esportiva mais vigorosa. Indica-se em último caso o tratamento cirúrgico para casos de insucesso com o tratamento conservador, ou em casos de instabilidade patelar com episódios recidivantes de luxações.
A reabilitação tem como objetivo restaurar a coordenação normal da atividade muscular, especialmente durante movimentos funcionais, usando fortalecimento dos estabilizadores dinâmicos da articulação femoropatelar, com ênfase no vasto medial oblíquo, alongamento dos músculos encurtados, controle motor, uso de modalidades terapêuticas e uso de antiinflamatórios. Estas intervenções podem ser associadas com um resultado clínico positivo incluindo a redução da dor, melhora da função e diminuindo a recorrência da dor. Uma vez que o tratamento conservador é sempre enfatizado como a primeira linha de ação em prol da reabilitação dos indivíduos acometidos por esta síndrome, é importante ao Fisioterapeuta ter pleno conhecimento quanto a biomecânica e as formas de tratamento da SFP utilizadas.